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ESQUEMA DA PSICANÁLISE

Foto do escritor: ESPEcastESPEcast

No Episódio 127 do ESPECast, o professor Daniel nos convidou a ler um texto importante de Sigmund Freud, o “Compêndio de Psicanálise”.

Neste episódio ele vai nos guiar pela leitura de outro texto importante, escrito entre 1923-1924 e se chama “KURZER ABRiß DER PSYCHOANALYSE”, podendo ser traduzido como “Resumo da Psicanálise”, “Breve Esboço da Psicanálise”, “Breve Esquema da Psicanálise.”

A seguir a transcrição da leitura feita pelo professor Daniel no episódio, com seus respectivos comentários. O episódio está disponível ao final do post, no canal do YouTube e no Spotify!

Boa leitura!

 

Breve Esboço da Psicanálise

Um breve esboço da psicanálise (1923-1924). É traduzido como “Breve esquema da psicanálise”, “Esquema da Psicanálise”, “Breve Esboço da Psicanálise”, “Resumo da Psicanálise” e é um texto curto, de poucas páginas.

Neste texto, Freud começa retomando alguns elementos históricos da psicanálise, depois passa para alguns casos de histeria e para outros mecanismos metapsicológicos do funcionamento da psique até retomar outros elementos históricos. 

O Texto

“A psicanálise nasceu, por dizer de alguma forma, com o século XX” – disse o doutor Sigmund Freud. – “A obra com a qual apareceu diante do mundo como algo novo é minha interpretação dos sonhos. Esse texto viu a luz em 1900.”. – Nós sabemos, de fato, que Freud publicou este texto em 1899, com materiais de 1894-95, ou anteriores, mas com data de edição de 1900. Seja como for, continuemos a leitura. 

“Porém, naturalmente, não surgiu da roca nem caiu do céu, mas se articula a algo anterior, continuando-o, e surge de estímulos que somente são produto da elaboração. Assim, pois, sua história” – disse o doutor Freud – “tem de começar pela descrição das influências que presidiram a sua gênese” -  a gênese da psicanálise, - “e não deve passar por cima tempos e estados anteriores à sua criação.”

Continua Freud:

A psicanálise nasceu em um terreno estritamente delimitado. Originalmente apenas conhecia um fim: o de compreender algo da natureza das doenças nervosas chamadas funcionais, para vencer a impotência médica, até então, quanto ao seu tratamento. Os neurologistas daquela época tinham sido formados na sobre estimação dos fatos químico- físicos e patológico-anatômicos. E muito mais tarde, se acharam sob a influência de Hitzig e Fritsch, Ferrier, Goltz e outros que pareciam demonstrar uma íntima vinculação, talvez exclusiva, de certas funções de determinadas partes do cérebro. Com o fator psíquico, não sabiam o que fazer. Não podiam aprendê-lo. Ou abandonavam aos filósofos, aos místicos, aos curandeiros. E, consequentemente, não havia acesso aos segredos da neurose, sobretudo aos da enigmática histeria, a qual constituía o protótipo da espécie toda. Ainda, quando, em 1885, praticava em Salpêtrière,” -  o lugar onde estava Charcot, - “consegui observar que, em relação às parálises histéricas, se considerava suficiente a fórmula de que dependiam de breves transtornos funcionais das mesmas partes do cérebro, cuja grave lesão provocava a parálise orgânica correspondente.”

Assim o Dr. Freud mostra que a medicina da época se demorava em questões químico-físicas ou anatômicas, e que trabalhava sobre questões neurológicas ou cerebrais, e que mal conseguia compreender a questão psíquica. É aí que entra a especificidade da psicanálise. 

Continuando a leitura.

“Sobre a falta de compreensão, padecia naturalmente também a terapia destes estados patológicos. Consistia em medidas de caráter geral, na prescrição de medicamentos, e em tentativas inadequadas, na sua maioria, de influência psíquica, tais como intimidações, chacotas, reprimendas. Como terapia específica dos estados nervosos, se aconselhava à eletricidade. Mas o médico, que se decidia a aplicá-las, seguindo os minuciosos preceitos estabelecidos, achava pronto a ocasião de surpresa diante do lugar que também, na ciência pretensamente exata, ocupava a fantasia. A viragem decisiva se iniciou quando, entre o ano de 1880 e 1890, demandaram de novo um acesso, na ciência médica, aos fenômenos de hipnotismo. Desta vez, sobre os trabalhos de Liébault, Bernheim, Heidenhain e Forel, com o maior sucesso que nunca até então. O importante foi o reconhecimento da autenticidade de tais fenômenos. Uma vez dado este passo, se impunha a extrair do hipnotismo os ensinamentos fundamentais e inesquecíveis, inapagáveis. Em primeiro lugar, se chegou à convicção de que certas singulares atrações somáticas não eram senão o resultado de certas influências psíquicas, ativadas no caso correspondente. E, em segundo lugar, a conduta dos pacientes, depois da hipnose, produzia uma clara impressão da existência de processos anímicos que só inconscientemente podiam ser. O inconsciente já era, tempo atrás, como conceito teórico, objeto de discussão entre filósofos. Mas, nos fenômenos de hipnotismo, se fez, por primeira vez, corpóreo, tangível, o objeto de experimentação.”

Isto é interessante. Freud nos mostra nos primórdios, na pré-história da psicanálise que houve uma vez que os médicos se dedicaram aos problemas funcionais e aos mistérios da histeria através dos estudos do cérebro – os estudos anatomo-fisiológicos e físico-químicos. Em dado momento foi introduzida a hipnose na medicina. É importante destacar que não é a psicanálise que introduz a hipnose, é a medicina que o faz. A psicanálise acaba se afastando da hipnose, com um resultado: a descoberta, através de observações, de determinações inconscientes relacionadas com os fenômenos da neurose obsessiva e da neurose histérica.

O texto segue descrevendo a questão da hipnose, da utilização que Charcot fazia da mesma em Salpêtrière, descreve o modo sugestivo utilizado por outros médicos, inclusive por Joseph Breuer, com quem Freud escreveu, em 1895, um texto fundamental para quem se interessa por psicanálise: Estudos sobre a Histeria.

O texto segue com a questão da origem da psicanálise e, em determinado momento, começa a trabalhar questões ligadas à metapsicologia. 

“Eu vou ler algumas partes aqui com o intuito, apenas, de sugerir a vocês a leitura completa do texto que não passa de 12 páginas. 12 páginas onde está concentrado o esquema mais conciso da Psicanálise, escrito pelo próprio Dr. Freud – e isso me parece importante. Em vez de você buscar explicações de segunda mão do que é a Psicanálise, ir diretamente à fonte e observar o que o próprio Freud, de fato, escreveu sobre a Psicanálise.” – Daniel Omar Perez



A questão metapsicológica

Em seguida mais um trecho do texto: Como motivo da repressão, e, com isso, como causa de toda doença neurótica” - a repressão é a causa de toda doença neurótica -  “havíamos de considerar o conflito entre grupos de tendências anímicas. E então a experiência nos ensinou algo tão novo quanto surpreendente sobre a natureza das forças em disputa. A repressão partia regularmente da personalidade consciente do doente, do enfermo, e dependia de motivos éticos e estéticos. À repressão acabava se subsumindo em impulsos de egoísmo e crueldade, que, em geral, podemos considerar como maus, mas, sobretudo, impulsos optativos sexuais, muitas vezes de natureza repulsiva e ilícita. Assim, pois, os sintomas patológicos eram um substitutivo de satisfações proibidas.”

Aqui temos a definição, mais uma vez, do que é um sintoma para Freud: a formação substitutiva de um desejo reprimido. Essa repressão se origina de nossos preceitos, de nossos princípios éticos e estéticos. São estes que reprimem os impulsos sexuais e,  ao reprimir os impulsos sexuais,  fazem surgir os sintomas.

Esse sintoma é um substituto de uma satisfação proibida. Proibida por quem? Pelo próprio ego, a partir de princípios éticos e estéticos. Seguindo com Freud:

“A doença parecia corresponder a uma doma incompleta do imoral que o homem integra.”

 
Conclusão

Dependência emocional não significa algo que poderia se opor à autonomia absoluta: eu passo da dependência emocional à autonomia absoluta, e posso me valer por mim mesmo, dos modos que eu quiser, e fazer o que me dê vontade o tempo inteiro. Isso também é outra ilusão.

“De um lado temos a ilusão da autonomia absoluta, do outro lado temos a ilusão de que estamos em segurança quando nos vinculamos estreita e fechadamente ao outro. Talvez a elaboração da posição que nós tomamos em relação com a sensação de desamparo, em relação com a sensação de falta de garantias, em relação com a contingência de que algo que não esperamos possa acontecer, talvez a elaboração disso nos permita estabelecer uma relação afetiva com o outro que não seja mera dependência emocional, nesse último sentido que acabamos de falar.”  - conclui professor Daniel.

Até nosso próximo artigo.



Assista ao episódio completo:




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Transcrição e adaptação:

Gustavo Espeschit é psicanalista, professor e escritor. Pós-graduado em Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica pelo Instituto ESPE/UniFil e Pós-graduado em Clínica Psicanalítica Lacaniana pela mesma instituição. Formado em Letras Inglês/Português com pós-graduação em Filosofia e Metodologia do Ensino de Línguas.


Autor do episódio:

Daniel é psicanalista, pesquisador e professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor e Mestre em Filosofia pela Unicamp, com pós-doutorado na Michigan State University nos EUA e em Rheinische Friedrich-Wilhelms-Universität Bonn na Alemanha. Autor de diversos livros de Filosofia e Psicanálise. Obteve o título de licenciado em filosofia em 1992 na Universidade Nacional de Rosario (Argentina). Publicou artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, livros e capítulos de livros sobre filosofia e psicanálise.




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