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o que é interpretar?

Atualizado: 21 de mar.


No episódio 41 do ESPECast, cuja transcrição você pode ler aqui no blog, o professor Daniel Omar Perez abordou um pouco, de maneira introdutória, uma questão primordial para a psicanálise em geral: o que significam os sonhos.


Na plataforma ESPECast vocês encontram um percurso com o próprio professor, intitulado “Fundamentos da Psicanálise”. Neste percurso, no módulo 2, em seis aulas, ele se detêm detalhadamente sobre a questão da Interpretação do Sonhos.


O episódio 88 do podcast Filosofia e Psicanálise, chamado A linguagem, os sonhos e a psicanálise, que vocês podem encontrar no YouTube e no Spotify ou conferir ao final deste post, é um trecho do segundo episódio deste módulo.

Afinal, o que é interpretar?


Boa leitura. 


 

O que é interpretar?

Esta é a pergunta guia do professor Daniel.


Outros, entretanto, entendem que é possível uma escuta psicanalítica e um trabalho psicanalítico, ou seja, é possível uma psicanálise, em grupo.

No livro de Gênesis da Bíblia, vemos que José interpreta sonhos dando sentido a eles. Ele fazia isso substituindo um elemento do sonho por algum outro que fizesse sentido na vida do sonhador, com efeitos premonitórios.


Santo Agostinho também interpretou as palavras de Cristo dando sentido a elas pelo estado de graça.

Em toda a filosofia medieval, o problema da leitura e da interpretação vai se colocar.


Neste período são propostos diferentes cânones de leitura e verdadeiros sistemas semióticos. Interpretar, então, seria uma utilização desses sistemas.


“Se vocês observam a pintura medieval, ela está cheia de símbolos. Cada elemento dentro de uma pintura medieval simboliza alguma coisa que precisa ser lida. Quer dizer, o ato de contemplar uma pintura medieval cristã não é um ato, digamos despretensioso e livre. É um ato sujeito a leis de interpretação e de leitura. ” – pontua Daniel, exemplificando este sistema semiótico. – “Então, vemos que aquilo que Charles Sanders Pierce inventou no final do século XIX nos Estados Unidos, de algum modo já estava inventado e reinventado desde os gregos, desde a época medieval. ” – complementa se referindo a semiótica de Pierce.


“A palavra Semiótica” – pontua o professor – “já aparece entre os estoicos, volta a aparecer na obra do filósofo inglês John Locke. Aparece outra vez em Immanuel Kant, posterior a Locke, no século XVII. Quer dizer, nós temos uma série de trabalhos que vão nos colocar sobre o tapete o problema da interpretação. O que significa interpretar? E há diferentes regras para isso.”

Charles Sanders Pierce desenvolve uma semiótica e uma teoria da interpretação ad infinitum. Ele entende que há uma interpretação que sempre pode ser interpretada e. por sua vez, interpretada de novo, e outra vez. Ou seja, para ele, qualquer coisa que se coloque como resultado de uma interpretação, também pode ser interpretado.



 

Há uma história da interpretação antes de Freud.

“O livro “A Interpretação dos Sonhos” aparece no ano 1900. Então, quer dizer que aparece em uma época em que a obra de Charles Sanders Peirce já está escrita, mas de forma paralela, está nos Estados Unidos. Aparentemente não há contato.” – Daniel Omar Perez.


Escrito com materiais da década de 1890 e publicado em 1899 com data de 1900, por desejo de Freud, A Interpretação dos Sonhos é o livro inaugural da técnica criada para dar conta dos fenômenos da neurose histérica e da neurose obsessiva. Freud não é o primeiro a interpretar e nem é o primeiro a falar de sonhos. Como vimos, a questão da interpretação tem uma história que começa há, pelo menos, 2500 anos antes, se quisermos colocar uma data.


Além do exemplo já citado da Bíblia, a interpretação dos sonhos já aparece em Artemidoro, autor de “A Chave dos Sonhos” no século II a.C.. Esta obra é citada por Foucault no capítulo I, do terceiro volume de sua História da Sexualidade. Neste capítulo Foucault se detém, justamente, no ponto onde Artermidoro conecta o ato de sonhar com a questão da sexualidade: Sonhar com os próprios prazeres, como coloca o filósofo francês.


“Não vamos desenvolver a leitura que faz Foucault de Artemidoro, mas deixo o registro para que vocês possam ir para a Bíblia, possam ir para Santo Agostinho, possam ir para o livro III da História da Sexualidade, capítulo I: Sonhar com os próprios prazeres e, a partir daí, poder ver como Artemidoro tem uma técnica para revelar os prazeres e a sexualidade a partir do sonho. Quer dizer, Freud não é o primeiro a vincular sonho com a sexualidade.” – nos diz Daniel em sua exposição.



Conclusão

José, na Bíblia, interpretava buscando um sentido.


Santo Agostinho interpretava buscando o estado de graça das palavras.


Na época Medieval se interpretava por sistemas semióticos.


“Me parece interessante” – comenta o professor Daniel na conclusão de sua argumentação – “para alguém que tenha preocupações em psicanálise, dar uma olhada na história das interpretações, na história da leitura, da história da retórica. Nos manuais de retórica, de semiótica e de semiologia.




 
Assista ao episódio completo




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Transcrição e adaptação:

Gustavo Espeschit é psicanalista, professor e escritor. Pós-graduado em Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica pelo Instituto ESPE/UniFil e Pós-graduado em Clínica Psicanalítica Lacaniana pela mesma instituição. Formado em Letras Inglês/Português com pós-graduação em Filosofia e Metodologia do Ensino de Línguas.


Autor do episódio:

Daniel é psicanalista, pesquisador e professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor e Mestre em Filosofia pela Unicamp, com pós-doutorado na Michigan State University nos EUA e em Rheinische Friedrich-Wilhelms-Universität Bonn na Alemanha. Autor de diversos livros de Filosofia e Psicanálise. Obteve o título de licenciado em filosofia em 1992 na Universidade Nacional de Rosario (Argentina). Publicou artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, livros e capítulos de livros sobre filosofia e psicanálise.




 
 
 

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