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Como a psicanálise vê a questão do burnout?


Com as exigências do mercado de trabalho e a sociedade capitalista que demanda cada vez mais perfeição, agilidade fora do normal e proatividade do sujeito no que ele exerce, vemos um aumento significativo de pessoas com burnout. O que seria esse novo sintoma? Como a psicanálise pode trabalhar nesses casos?

Para isso, trouxemos partes do trabalho de conclusão de curso de Adriane Belarmino, chamado “O Olhar da Psicanálise sobre a Síndrome de Burnout, enquanto Sofrimento Psíquico no Trabalho”. De acordo com Belarmino (2016), “a síndrome de burnout se desenvolve devido a um acúmulo de investimentos no trabalho, esperanças, desilusões e frustrações. Recorrentes das atividades laborativas,(...) as motivações internas e externas não são mais atingidas e o sofrimento passa a ser predominante”. (p. 9)

“As definições descritas e os fatores de desencadeamento da síndrome de burnout, são apresentadas como formas de diagnósticos, que possam estar apoiando a psiquiatria ou psicologia para a condução de um tratamento. No entanto, pensando na clínica psicanalítica e na singularidade dos sujeitos acometidos, surge a questão: que tipo de discursos e energias libidinais envolvem o sujeito acometido pela síndrome de burnout?” (Belarmino, 2016, p. 24)

Podemos pensar pela via do discurso capitalista, que “é definido pelos rompimentos no social, ou ainda, a não constituição de vínculos com o mesmo. Conforme aponta Alberti (2000, apud Belarmino, 2016), no discurso do capitalista, não importa mais o saber do fazer do trabalhador, mas sim, como este pode ser computado, mensurado e quantificado, ou seja, tudo se unifica em números, incluindo o Outro. (...) E é no discurso do empregador (capitalista) que o sujeito (empregado) vai comprar a ideia de tudo poder, mero engano, ao se deparar em ser apenas o objeto de gozo deste capital.” (p. 25)


“Com a apresentação da incoerência entre a realidade dos objetivos ao qual o sujeito se identificava, com os objetivos apresentados no discurso do capitalista (empregador), pode-se entender que, a exaustão emocional desencadeada na síndrome de burnout, é um desequilíbrio de uma posição narcisista. Assim, o sujeito depara-se com o sofrimento, a partir do enfraquecimento e desinvestimento narcísico, desestabilizando o ego e podendo entrar num estado de melancolia” (Belarmino, 2016, p. 28)


“Estando a melancolia direcionada a perdas simbólicas e inconscientes dos objetos, as consequências para o sujeito não são claras ou discursivas, diante das possibilidades não atingidas. (...) Como a perda não pode ser diretamente nominada, ocorre um deslizamento desta para o ego, assim, realizando uma identificação com o sofrimento. (...) Os sujeitos passam a ter um discurso de negativação de si, das relações e do profissional, impossibilitando-o de ver as novas opções de objetos que possam ser investidos pela libido.” (p. 30)


“Frente a síndrome de burnout, a posição masoquista, nas relações de trabalho, pode ser percebida na expressão do sofrimento do sujeito, que tenta demonstrar todo o mal que há numa instituição. O qual parece buscar, tornar-se o herói da empresa, pelo fato de sustentar-se na posição de trabalhador mesmo sendo humilhado, ou ainda, apresentando inúmeros afastamentos. (...) Dentro desta posição masoquista, para o sujeito o que importa não é como sofrer, mas sim, como se sustentar dentro do adoecimento.” (p. 32)


E como a psicanálise entra nesse contexto? “O sofrimento pode ser compreendido como uma condensação do histórico do sujeito, inserido em um contexto sócio-político discursivo, dotado de pulsões, prazeres e desprazeres.” (p. 34)


Também é levado “em consideração as subjetivações inseridas nas atividades laborais, desta forma, o sujeito é colocado na posição de desejante e de protagonista de sua história, fazendo com que este responsabilize-se e ressignifique seu sofrimento.” (...) Dentro desta posição, há a possibilidade de barrar o discurso do capitalista, que faz do sujeito um espectador de um laço social que não se articula.” (p. 34)




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Adaptação: Caroline Britto Zapparoli é graduada no curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL 2018). Especialização em Clínica Psicanalítica (UEL 2020) e atualmente discente da Especialização em Psicologia Hospitalar: Atuação Multiprofissional do Instituto ESPE. Coordenadora do Setor de Tutoria e Avaliações do Instituto ESPE.


 
 
 

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