top of page

É possível viver sem guerra?

Foto do escritor: ESPEcastESPEcast

O episódio 116 do ESPECast, disponível no Spotify e no YouTube, se debruça sobre questões muito atuais:

Por que a guerra? Quais são as causas da guerra? É possível parar a guerra? É possível vivermos, finalmente, em uma sociedade sem guerras?

Este é um tema que é recorrente nas diferentes áreas da filosofia e das ciências sociais e humanas. Também foi tema da psicanálise de Sigmund Freud.

Confira a transcrição do episódio no texto abaixo.

Boa leitura!

 

Freud e Einstein

Freud era preocupado com os problemas da agressividade e, não só por uma questão clínica, mas também por uma questão política, cultural e, até mesmo pessoal, era preocupado também com as questões da guerra.

Passou sua vida em uma Viena cosmopolita, que apresentava uma diversidade linguística e cultural muito grande e que em um determinado momento, pelas circunstâncias sociais, econômicas e políticas do lugar, desenvolveu um fenômeno bastante importante chamado nacional-socialismo.

Freud e Einstein. 

Dois cientistas. 

Em 1927, na casa de um filho de Freud em Berlim eles se encontram. 

Freud e Einstein. Ambos pertencentes à comunidade judaica. Ambos cientistas e ateus. Podemos dizer que os dois compartilham uma série de circunstâncias e características e, a partir daí, surge um vínculo, uma relação que será retomada alguns anos mais tarde.


A pulsão de agressividade

Freud publica, em 1930, o Mal-Estar na Civilização. Este é um livro que, entre outras coisas, nos apresenta a teoria freudiana da renúncia pulsional, ou seja, um livro que postula que o ser humano, para conviver em sociedade, tem que renunciar a algumas satisfações pulsionais. 


“Tais renúncias pulsionais fazem com que a energia pulsional se transforme, se elabore em produtos de cultura, em produtos de arte, se sublime.” – explica o professor Daniel. 


Há, entretanto, um resto dessa energia pulsional que não se transforma, não se elabora em produtos de cultura, em produtos de arte, ou seja, não se sublima. Este é um resto de pulsão que Freud vai denominar como “pulsão de agressividade” e este resto vai permear a relação social, ou seja, a relação entre os seres humanos. 


É essa agressividade que torna a convivência um tanto tensa, que torna a convivência conflituosa, que dificulta a relação entre os indivíduos, tanto no ambiente familiar quanto na vida pública e que, em grande escala, produz conflitos sociais e produz guerras. 


Pondera o professor Daniel: 


Essas guerras não surgem apenas por problemas políticos, mas surgem, do ponto de vista psicanalítico, por um impulso sexual, por um impulso de agressividade que não se sublima, que não se elabora, que não se transforma.”


As Cartas

Em 1932, a relação entre Freud e Einstein é retomada, mas dessa vez na forma de cartas. Einstein envia uma carta para Freud, que responde prontamente e a questão é: “Por que a guerra?” É possível parar a guerra? É possível viver em um mundo sem guerras? A resposta de Freud não é nada otimista. Pelo contrário, é bem pessimista.


Na teoria de Freud, todos terminamos mortos, já que a pulsão que mobiliza o sujeito é uma pulsão de morte. O arco da pulsão se inicia no inorgânico e termina no inorgânico. Se inicia no grau zero e termina no grau zero. Isso marca a teoria freudiana da dualidade pulsional  e marca também a maneira dele ver a dinâmica dos conflitos sociais, dos conflitos entre nações, dos conflitos entre etnias, entre grupos religiosos. 


Estas cartas estão publicadas nas Obras Completas de Sigmund Freud e servem muito para podermos pensar como o conflito de uma guerra pode ter causas políticas, econômicas, sociais, culturais e religiosas, mas também causas pulsionais. 


 
Conclusão: É possível viver sem guerra?

Para Freud, então, essas causas pulsionais seriam a origem do “Por que a guerra?”  e também a causa pela qual elas não podem ser detidas em uma sociedade.


 O conflito faz parte da vida pulsional dos ser humanos.


Para saber mais sobre a questão dos conflitos pulsionais, acesse a plataforma ESPEcast, onde você encontra mais de 200 horas de material sobre diversos temas da psicanálise.


Até nosso próximo texto!


Assista ao episódio completo:



quer saber mais?

Conheça nossa plataforma online dedicada à transmissão da psicanálise. São mais de 300 horas de cursos e conteúdos ligados ao campo da psicanálise, produzidos por pesquisadores(as) e analistas que são referência no Brasil e no mundo.



 

Transcrição e adaptação:

Gustavo Espeschit é psicanalista, professor e escritor. Pós-graduado em Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica pelo Instituto ESPE/UniFil e Pós-graduado em Clínica Psicanalítica Lacaniana pela mesma instituição. Formado em Letras Inglês/Português com pós-graduação em Filosofia e Metodologia do Ensino de Línguas.


Autor do episódio:

Daniel é psicanalista, pesquisador e professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor e Mestre em Filosofia pela Unicamp, com pós-doutorado na Michigan State University nos EUA e em Rheinische Friedrich-Wilhelms-Universität Bonn na Alemanha. Autor de diversos livros de Filosofia e Psicanálise. Obteve o título de licenciado em filosofia em 1992 na Universidade Nacional de Rosario (Argentina). Publicou artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, livros e capítulos de livros sobre filosofia e psicanálise.




 
 
 

Comments


© 2021  ESPECAST PRODUCOES LTDA.

bottom of page