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Por que nos sentimos desamparados?

Foto do escritor: ESPEcastESPEcast

O que acontece quando sentimos uma sensação de pânico? Ou então, uma angústia insuportável? O que acontece quando nos sentimos desamparados? Essas são as perguntas que o professor Daniel Omar Perez nos faz no episódio 73 do ESPECast, disponível no You Tube e no Spotify. Boa leitura.


 

Fort-da

Sigmund Freud teve uma experiência bastante interessante na sala de sua casa. A sua filha está junto com seu neto e Freud observa que este está muito à vontade com relação a presença da mãe e tudo está transcorrendo muito bem. De repente, a mãe da criança precisa se retirar, deixando a criança sozinha no quarto, na companhia do avó, mas sozinha.

Quando a mãe sai a criança começa a chorar. Imediatamente, porém, pega um carretel com um fio ligado a ele e joga embaixo do sofá, de modo que o mesmo desaparece, escondido pelo tecido que oculta a sua parte de baixo. A criança então começa um jogo de jogar o carretel e puxa-lo. Nesse jogar e puxar, começa a brincadeira do aparecer e desaparecer. Desaparecer e aparecer.

Observando essa cena, Freud percebe como a criança começa a ter uma sensação de satisfação cada vez que o carretel aparece depois de ter desaparecido. Assim surge a expressão “Fort-da”. O garoto, quando o carretel desaparecia por debaixo do sofá, dizia algo como “fort”, ou seja, foi. Quando, ao puxar o fio, o carretel reaparecia, ele diz “da”, ou seja, algo como está aqui. 

Freud então entende que essa reação lúdica que a criança tem com o carretel seria o que permitiria a ela lidar com o desamparo sentido por ela diante da saída da mãe. “É a presença de uma ausência. A ausência da mãe se torna presente para a criança. Não é indiferente. A criança não é indiferente à ausência da mãe” – explica professor Daniel, acrescentando – “Poderia ter sido diferente, talvez, à ausência de outra pessoa, mas não a ausência da mãe. A presença dessa ausência faz com que, de algum modo, ele se sinta desamparado. Nesse desamparo ele cria uma cena lúdica. Um jogo. O jogo do Fort-da.”

Vamos pensar então em como outra criança poderia ter reagido a essa situação. 

“Eu, várias vezes, pensei em um filósofo inglês chamado Thomas Hobbes.” – diz Daniel. Hobbes viveu na Inglaterra entre 1588 e 1679. Participou de lutas políticas fundamentais para a constituição do Estado Inglês e justamente quando está criando uma filosofia política ele se lembra de sua infância e diz: “Minha mãe teve gêmeos. Eu e meu irmão, o medo. ”

“É interessante que Thomas Hobbes diga que seu irmão gêmeo é o medo.” – diz Daniel argumentando que quando a criança hobbesiana se sentia em desamparo, em vez de, como a criança freudiana, criar uma cena lúdica para lidar com ela, o que ela coloca é o medo. O medo, a fobia, o pânico e o jogo seriam, portanto, modos de lidar com esse desamparo. 

O desamparo, para Freud, é um elemento constitutivo do sujeito. Ele precisa de uma experiência de desamparo para se constituir, ou seja, ele precisa se colocar diante da experiência da presença de uma ausência para poder lidar com ela e com o desamparo que ela proporciona. E o sujeito faz isso de modo lúdico, de modo fóbico, com medos e, inclusive, com o pânico. “O pânico, então, é um modo de evitar a angústia. E a angústia também é um modo de evitar o desamparo. ” – conclui professor Daniel.


 
Conclusão

“Valeria a pena pensar como é que nós lidamos com nossos desamparos. Como é que distintas filosofias políticas pressupõem determinados modos de agir que, de algum modo, tamponam ou lidam com esse desamparo, que é uma questão de constituição do sujeito humano.”  - Daniel Omar Perez

Deixem suas reflexões nos comentários.

Até nosso próximo artigo. 



Assista ao episódio completo:





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Transcrição e adaptação:

Gustavo Espeschit é psicanalista, professor e escritor. Pós-graduado em Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica pelo Instituto ESPE/UniFil e Pós-graduado em Clínica Psicanalítica Lacaniana pela mesma instituição. Formado em Letras Inglês/Português com pós-graduação em Filosofia e Metodologia do Ensino de Línguas.


Autor do episódio:

Daniel é psicanalista, pesquisador e professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor e Mestre em Filosofia pela Unicamp, com pós-doutorado na Michigan State University nos EUA e em Rheinische Friedrich-Wilhelms-Universität Bonn na Alemanha. Autor de diversos livros de Filosofia e Psicanálise. Obteve o título de licenciado em filosofia em 1992 na Universidade Nacional de Rosario (Argentina). Publicou artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, livros e capítulos de livros sobre filosofia e psicanálise.




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