No episódio 82 do ESPECast, o professor Daniel Omar Perez nos remete a trechos do texto “Introdução ao Narcisismo” de Sigmund Freud para tentar responder à pergunta: por quem estou me apaixonando?
O episódio pode ser acessado no You Tube ou no Spotify.
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Boa leitura.
“Eu gostaria de ler alguns segmentos de um texto que recomendo muito, que é ”Introdução ao Narcisismo”, de 1914.” – nos diz professor Daniel.
“A vida erótica humana” – nos disse Freud naquela época – “com suas variantes diversas em um homem e em uma mulher, constitui o terceiro acesso ao estudo do narcisismo. ”
Em outro momento do texto, Freud diz que as primeiras satisfações sexuais são auto eróticas e são vividas em relação com as funções vitais destinadas à auto conservação.
“Aí então encontramos o narcisismo. As pessoas às quais temos estado em relação, encomendadas à alimentação, ao cuidado e à proteção, são as pessoas que a criança, em seus primeiros momentos de vida, toma como objetos sexuais. A partir daí então se estabelece um vínculo e aí é que começa a se introduzir a hipótese do narcisismo para, segundo Freud, explicar a escolha nas relações amorosas. ” – comenta Daniel lendo trechos do referido texto.
Os objetos sexuais primitivos, ou seja, aquele que dá de comer, aquele que cuida, aquele que protege, são o paradigma daquilo que vamos procurar no encontro com um parceiro amoroso. Quer dizer, se estabelecemos, em um primeiro momento de vida, um vínculo com quem nos cuidou, ou seja, com quem nos alimentava e provia, na vida adulta vamos escolher alguém que ocupe esse lugar.
“Daí que parece que muitos casais encontram algo assim como um substituto da figura paterna ou da figura materna. Um substituto de alguém que vai nos proteger ou vai nos alimentar. Essa é uma das formas nas quais Freud entende a escolha das relações amorosas. ” – comenta Daniel.
Há um outro tipo de narcisismo nas relações amorosas que vai pautar a nossa escolha de nosso parceiro ou de nossa parceira de história amorosa: a projeção do ideal do eu no outro, o que faz com que escolhamos no outro aquilo que, de alguma forma, gostaríamos de ser idealmente ou poderíamos ser eventualmente. Ou também uma parte de nós mesmos no outro. “Então aí temos os modos que estruturariam a relação de casal, a relação do encontro amoroso. ” – diz Daniel
Conclusão
O narcisismo é um fenômeno de satisfação pulsional que não só habita formas de neurose, psicose e perversão e que não tem somente que ver com o esgotamento físico ou dores intensas que podem fazer com que rompamos com o mundo externo e façamos uma espécie de regressão para nós mesmos. O narcisismo é uma forma de satisfação pulsional que também pauta a escolha dos nossos laços amorosos.
Quando escolhemos alguém para compartilhar uma história amorosa de vida, de acordo com Freud, estamos escolhendo um substituto da função paterna, um substituto da função materna. Estamos escolhendo alguém que seria o ideal daquilo que teríamos gostado de ser, mas não fomos. Alguém que seria o ideal do que gostaríamos de ser agora, mas não somos. Estamos escolhendo alguém que seria o ideal do que nós, futuramente, gostaríamos de ser, mas não somos. Estamos escolhendo também uma parte de nosso próprio corpo em outro.
Até nosso próximo artigo!
Assista ao episódio completo:
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Transcrição e adaptação:
Gustavo Espeschit é psicanalista, professor e escritor. Pós-graduado em Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica pelo Instituto ESPE/UniFil e Pós-graduado em Clínica Psicanalítica Lacaniana pela mesma instituição. Formado em Letras Inglês/Português com pós-graduação em Filosofia e Metodologia do Ensino de Línguas.
Autor do episódio:
Daniel é psicanalista, pesquisador e professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor e Mestre em Filosofia pela Unicamp, com pós-doutorado na Michigan State University nos EUA e em Rheinische Friedrich-Wilhelms-Universität Bonn na Alemanha. Autor de diversos livros de Filosofia e Psicanálise. Obteve o título de licenciado em filosofia em 1992 na Universidade Nacional de Rosario (Argentina). Publicou artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, livros e capítulos de livros sobre filosofia e psicanálise.
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